Sou Daniele, sou a primogênita de cinco irmãos, tenho 43 anos e dois filhos, Vitória e Vinicius. Sou filha da dona Isabel com muito orgulho e tenho um bem querer muito grande por essa rua, até me emociono de falar. .
A família do meu pai sempre morou aqui mas a família da mãe é de Moraújo. Esse lugar sempre foi afetivo pra mim, foi aqui que brinquei na rua, tomei banho de chuva, joguei bola. .
Sabe uma memória muito presente que eu tenho? O pai ia pescar no rio aqui atrás e ficávamos eu e meus primos esperando ansiosamente o trem passar lá na ponte. A gente ficava contando os vagões, um a um. Era essa a brincadeira. Ai que saudade! Até hoje recordo disso quando o trem passa lá em cima da ponte. Você já viu como é bonito?, eu lembro dessa brincadeira da gente. .
Lembro que eu queria ir junto com o trem, saber quem estava lá dentro, quantas pessoas, se só tinha carga, queria ir embora com o trem. Até hoje quando estou com um problema eu vou lá pra margem pensar. Que lugar bonito, né? Me dá uma calma. Eu lembro desse tempo da infância, da pescaria, da passagem do trem. Tempo é coisa preciosa! .
Tem outra memória bonita que eu lembro com força. O assobio do meu pai. Fecho o olho e lembro da altura exata. Ele se foi e deixou muita saudade. Quando ele chegava em casa ele queria ver os filhos todos em casa, então se tivesse faltando um ele assobiava daqui é mesmo nas nossas casas a gente podia ouvir e se comunicar com ele. Coisa louca, né? A gente vai decorando o jeito da pessoa, o som do assobio, reconhece de longe. .
Ah, tem tanta coisa que eu gosto, mas tem uma coisa marcante em mim: eu gosto muito de festa. Eu sou da celebração. Tudo precisa ser celebrado, pequenas e grandes coisas. Sou eu que puxo aqui na rua as festividades. Eu tenho essa alma jovem, gosto de dançar, de estar feliz, gosto de ver as pessoas felizes. Eu acho tão bonito ver as outras pessoas sorrindo, satisfeitas. .
Sabe qual o meu sonho? Queria montar um grupo com os idosos aqui da rua. Um grupo para dançar com eles, para levá-los para se divertir. É uma fase da vida que tem tanta solidão e eles já percorreram tanto, já caminharam tantas léguas. Ainda vai dar certo realizar esse sonho.
(Já estava bem bonito pra chover e no momento da entrevista de Daniele caiu um toró).
Ahhhhh, essa chuva é boa é de banhar. Deu vontade de tomar banho de chuva. E aí, posso ir mesmo, não vai acabar a entrevista não? Pois eu vou, qualquer coisa a gente continua depois. Não acredito, você vem me fotografar? Vou ter uma fotografia na chuva! (Muitos risos)
Quero uma fotografia na minha rua, esse é meu lugar preferido no mundo. Amo demais esse lugar. Foi aqui que nasci, cresci e é aqui que quero passar até o fim dos meus dias. Você pode tirar uma foto minha bem aqui?
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